domingo, 15 de setembro de 2013

RELATÓRIO FINAL DAS FONTES



Universidade Federal de Sergipe
Departamento de História
Professor: Dr. Antônio Lindivaldo
Discente: Maria Luiza Pérola Dantas Barros


Relatório final das fontes

  Aos 19 de julho de 2013, a turma de Temas de História de Sergipe II foi em visita ao Arquivo do Poder Judiciário de Sergipe com o objetivo de pesquisar sobre uma personalidade relevante do século XIX em Sergipe, utilizando como fonte os inventários, a fim de relacionar com os assuntos da disciplina.
  Inicialmente peguei uma caixa relacionada com Rosário do Catete nos anos de 1887 e 1892, mas, em virtude da dificuldade de encontrar um inventário interessante, acabei por escolher um inventário pertencente à caixa número 16, de número geral 822, módulo II, no período entre 1900 e 1901, do Município de Maruim.
  O inventário que analiso aqui está reacionado a Donna Joanna Carolina Barretto Cardozo, falecida em 1884, e Donna Maria Victória d’Assumpção Barretto, falecida em 1890. O inventariante, Dr. Antônio Joaquim de Souza Britto, é parente das ditas falecidas.
  A fonte aqui analisada foi escrita entre 12 de dezembro de 1900 e 22 de janeiro de 1901, e possui como característica fundamental, e que a todo o momento é destacada pelo escrivão Thomáz d’ Aquino Machado, o caráter amigável em que o inventário foi feito.
  O objetivo deste relatório circula em torno da tentativa de elucidar alguns aspectos relevantes das inventariadas, da cidade de Maruim entre os anos de 1881 a 1901, e até aspectos relevantes da própria economia de Sergipe na época.



 1.      Panorama de Sergipe nessa época

  Sergipe era um grande produtor de açúcar nesse período e também se inicia no mundo “fabril”, como vemos em um trecho do livro Textos para a história de Sergipe, na página 90, onde Maria da Glória de Almeida diz que:

“A mais clara e contundente participação de Sergipe no parque fabril nacional dá-se com a criação da primeira indústria têxtil em 1883. A associação de capitais sergipanos e de outros estados permitiu a criação da primeira fábrica de tecidos de Sergipe sob denominação de Cruz e Cia ou Fábrica Sergipe Industrial, com 60 tarefas e 170 operários para a produção de brim, cetim, bulgariana, algodãozinho e estopa.”

2. Cidade de Maruim

  Maruim foi elevada a categoria de cidade devido a sua potencialidade na indústria açucareira, pela Lei Provincial número 374, de 05 de maio de 1854.
  No início do século XX, para Cruz e Silva, Maruim era um dos municípios de maior arrecadação, o que acabava por gerar uma maior receita para a província.
  Ibarê Dantas em seu livro História de Sergipe República 1889-2000, nos oferece um breve olhar sobre Maruim no final do século XIX:

“Maruim em 1890 não era insalubre como Aracaju ou Laranjeiras, mas também não se constituía numa urbe das mais saudáveis. Situado no Vale do Cotinguiba, a 33 km da capital, era dos centros econômicos mais importantes. Embora fosse um município pequeno com apenas 7.851 habitantes no meio rural havia 14 engenhos e na cidade a movimentação de seu porto superava a de Laranjeiras. Seus estabelecimentos industriais e comerciais contribuíam para que sua receita fosse das mais expressivas do Estado. Com ruas largas, algumas calçadas, havia várias casas que mostravam a punjança de seus proprietários. Embora não tivesse a rede de serviços profissionais igualáveis à de Laranjeiras, possuía uma vida cultural estimulante, editando seus jornais e promovendo eventos. Seu gabinete de Leitura, que era o mais importante de Sergipe, nesse momento, 1890, editava o periódico Hora Literária.”


       3.    Inventário
  Como já dito, o inventário está relecionado aos bens deixados por duas mulheres, D. Joanna Carolina Barreto Cardozo, falecida em 15 de agosto de 1884, e D. Maria Victória d’ Assumpção Barretto, falecida em 9 de abril de 1890. Ambas eram habitantes de Maruim.
  É um inventário amigável dos bens deixados como herança aos seus irmãos e cunhados pelas duas falecidas.

3.1.Título dos herdeiros

- Francisco Tavares Barreto e sua mulher D. Joanna Maria de Menezes Barretto
- (________) José Ignácio do Prado Pimentel por sua mulher D. Maria José Barretto Pimentel
- (________) Joaquim Machado d’ Aguiar Menezes por sua mulher Izabel d’ Assumpção Menezes

3.2.Descrição dos bens
  Em 11 de dezembro de 1900 iniciou-se a avaliação os bens, iniciando pelos deixados por D. Joanna Cardozo, que foram os seguintes:
- 25 ações da Fábrica de tecidos Sergipense Industrial, no valor de 200 mil cada uma, importando numa quantia total d cinco contos de réis;
- um quinhão (porção de terra) na Fazenda Tabordos no valor de cento e vinte e cinco mil réis;
- um quinhão no Engenho Carvar do valor de dois contos de réis.

  Seguindo a análise podemos observar a descrição dos bens de D. Maria Victória Barretto, onde consta que ela deixou um quinhão no engenho (_____) de legítima paterna do valor de dois contos quatrocentos e nove mil e quatrocentos réis.


3.3.Partilha
  Coube a cada herdeiro após a divisão uma quantia de quatro contos quatrocentos e seis mil e setecentos réis para cada herdeiro agora citado:

- Francisco Tavares Barretto
- Joanna Maria de Menezes Barretto
- José Ignácio do Prado Pimentel
- Maria José Barretto Pimentel
- Joaquim Machado de Aguiar Menezes
- Anna Isabel d’Assumpção Menezes


3.4. Pagamento
  Para Joaquim Machado Aguiar Menezes, por cabeça d sua mulher Ana Isabel d’  Assumpção Menezes recebeu a quantia estabelecida através do recebimento de dois quinhões de um engenho.
  José Prado Pimentel herdou a mesma quantia, só que metade desta estava em poder de José Francisco e se referia também a ações da Fábrica de tecidos Sergipe Industrial.
  Francisco Tavares Barretto ficou com cento e sessenta e um mil cento e cinquenta e seis, e Joaquim Machado com dois mil e setecentos réis.



3.5.Publicação
  Feita em 12 de dezembro de 1900 em cartório na cidade de Maruim, mas é apenas e 22 de janeiro de 1901 que é feita a avaliação no livro competente.


  Por esta breve análise observamos como as inventariadas D.Joanna Cardozo e D. Maria Victória eram pertencentes a uma elite local, visto que inventário nessa época era destinado a pessoas com posses, e visto também a grande soma deixado pelas mesmas como herança.
  O fato de D.Joanna, por exemplo, ter deixado como herança quinhões em diferentes engenhos pode ser explicado utilizando-se da análise feita por Maria da Glória Santana de Almeida em sua obra Nordeste açucareiro (1840-1875), desafios num processo do vir-a-ser capitalista, no qual a autora fala na segunda parte da obra, Estudo de Caso: a província de Sergipe, como os movimentos de fragmentação dos engenhos era fruto de partilhas anteriores. Isso gerava uma concentração de quinhões de diferentes engenhos nas mãos de uma mesma pessoa, como é no caso de D. Joanna Cardozo.
  As breves relações feitas aqui certamente não esgotam a fonte. Há muito mais a ser pesquisado a partir desse inventário e aprofundado.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste açucareiro (1840-1875): desafios num processo de vir a ser capitalista. São Paulo.
DANTAS, Ibarê. Sergipe República: 1889-2000. Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, 2004.
DINIZ, Diana Maria de Faro Leal(coord.). Textos para a história de Sergipe.
SANTOS, Keizer. Maruim: fonte de cultura e história. IN acessado em 03 de setembro de 2013.