Resenha
1. Referência bibliográfica
ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste açucareiro (1840-1875): desafios num processo de vir a ser capitalista. São Paulo.
2. Autora
Professora sergipana Maria da Glória Santana de Almeida, foi docente de Historia antiga e medieval da Universidade Federal de Sergipe e pesquisadora da historia de Sergipe. Publicou diversos trabalhos em simpósios e revistas brasileiras.
Fonte: http://augufs.blogspot.com.br/2012/03/maria-da-gloria-santana-de-almeida-uma.html
3. Perspectiva teórica da obra
Possivelmente podemos inserir a autora na perspectiva teórica referente ao marxismo, no que se refere a forma de abordagem do tema referente a economia açucareira. Ela utiliza conceitos como modo de produção, mais-valia, mão de obra, alienação no processo produtivo, entre outros, que evidenciam sua linha de pensamento.
4. Breve síntese da obra
A partir da obra Nordeste açucareiro (1840-1875): desafios num processo de vir a ser capitalista, de Maria da Glória Santana de Almeida, a análise que aqui foi feita corresponde aos capítulos V,VI e VII juntamente com o Epílogo.
Capítulo V: Evolução do quadro fundiário
A autora inicia o capítulo apontando como que, no caso de Sergipe, as imposições físicas marcariam os limites de expansão da economia açucareira e interfeririam na relação discordante entre o crescimento do número de engenho e o volume total da produção de açúcar.
Aponta a origem alternativa das propriedades existentes e a incorporação de novas áreas à produção agrícola para a exportação. O latifúndio colonial é descrito como cultivo básico de um produto para exportação utilizando mão de obra escrava e exploração econômica de pouca extensão.
Entre os anos de 1840 e 1860 o número de engenho dobra em Sergipe devida a três fatores: heranças, venda de porções férteis e tecnologia disponível. A partir dos anos 60, a análise dos inventários mostra um movimento acelerado de fragmentação das terras pelas inúmeras divisões. A valorização das terras em Sergipe cresce com as oportunidades de uso por outras culturas como o algodão.
1. Mantendo o modelo de sesmarias (até 1840)
A autora afirma que, com o processo de formação das sesmarias, cristalizam-se formas que durarão no cenário fundiário até o século XIX. Mas também a autora mostra que as sesmarias não representavam formas únicas de ocupação de terras, havia também o arrendamento e a posse.
Como meia das sesmarias tinham maiores proporções do que as necessárias para um engenho funcionar acabaram por gerar consequência na conceituação da propriedade do século XIX Omo a revolução no conceito de latifúndio no Nordeste, mantendo-se como realidade apenas jurídica, e o fracionamento da terra para composição de um ou mais engenhos.
Vemos nessa parte da obra como que, para a autora, é o poder político que confirma o poder econômico.
2. A procura de ordenamento da terra (1840-1864)
Inicia apontando como a subdivisão das propriedades canavieiras, entre 1840 e 1864, possui componentes capazes de “rebater choques”, como a alta do preço dos escravos, as secas e as epidemias de cólera.
A cana de açúcar acabou por permitir, para a autora, a democratização do solo.
Sobre uma dimensão “útil”
Havia, como mostra a autora, uma grande diferença entre o tamanho da área plantada com cana e Sergipe, e os demais engenhos nordestinos (que por sua vez eram maiores).
Ela aponta os indicadores que poderiam orientar a avaliação das maiores ou menores possibilidades de expansão da “empresa” açucareira: fertilidade da terra e absorção do produto pelo mercado.
Havia nas fazendas uma espécie de rotação das terras, como nos aponta o texto, quando as terras estavam sem recursos, ocupavam-se com a cana outra faixa de terra.Como houve uma maior valorização das plantações de açúcar acabou por resultar na elevação do preços dos cereais e, em consequência, à fome.
b Desafios do fator terra
Foram muitas as dificuldades pelas quais a elite sergipana passou na década de 1850: cólera morbo, sucessivas secas e a consequente queda da produção açucareira.
Havia dois tipos de plantadores de cana; os que tinham terra própria (lavradores obrigados e lavradores de cana livre) e os que plantam em terreno do engenho. Tais lavradores se tornaram fatores de instabilidade porque passaram a fabricar seu próprio açúcar.
3. Acentuando o parcelamento fundiário (1864-1875)
A autora aponta dois fatores que influenciara a redução do número de engenhos em Sergipe entre 1856 e 1875: o desvio de plantadores de cana para a produção algodoeira e a valorização da terra.
Nessa parte a autora também acaba por mostrar como estão ultrapassadas as relações feitas entre propriedade canavieira e grandes extensões de terras.Também explica o processo de desfragmentação das terras de duas maneiras: pela simples imposição da herança e pela sucessão hereditária.
Capítulo VI: Permanência e mudanças da força de trabalho
Mostra como, além do conceito de latifúndio, os estudiosos estão derrubando o conceito de exclusivismo do trabalho escravo nas unidades açucareiras do século XIX. Acaba apontando como sistemas de colonato, morgadia e parceria conviviam ao lado do modo de produção escravista, sem que este perca sua importância na produção açucareira. Dois fatores acabaram por atingir o sistema escravista: a interrupção do tráfico e o comércio de escravos internamente. Na pequena lavoura havia o predomínio de mão de obra livre, no mais, até 1860, a lavoura canavieira dependia de maneira fundamental da mão de obra escrava.
Determinantes da força de trabalho
Derruba-se a hipótese da diminuição do número de escravos homens os engenhos sergipanos,através das análises aos inventários.
Os custos da força de trabalho
O valor do escravo dependia: do valor de mercadoria por ele produzida, de seu preço, dos gastos para custeá-lo e da tecnologia em uso pelo produtor. Em virtude da crise no abastecimento intero, os proprietários acabam por permitirem que os escravos pratiquem agricultura de subsistência, eles também poderiam se tornar escravos de ganho para aumentar os lucros.
Capítulo VII: À procura do dinheiro
Há um encarecimento do processo produtivo e os proprietários acabam por fundar engenhos mais próximos das plantações e utilizarem técnicas mais avançadas.
A autora explica como o estudo dos inventários permite ver a composição das fortunas e as tendências de evolução da economia. Vemos também como a economia sergipana está intimamente ligada à baiana.
Havia quatros tipos de financiadores internos vinculados ao segmento açucareiro local: estabelecimentos de caridade, exportadores de longa distância, grandes empresários e os comerciantes voltados para abastecer o mercado interno. Parte deste capital investido é aplicado em empreendimento local para beneficiar produtores de açúcar.
Epílogo: desafios modernizadores/ respostas arcaizantes
Mostra como é importante destacar que o período entre 1833 a 1853 foi o de aumento no número de engenhos, como então se explicaria a perda da competitividade no comércio europeu?
O engenho banguê não consegue atender as exigências do mercado livre. Duas saídas foram adotadas para a autora: a produção de maior quantidade de açúcar e a redução dos custos de produção.
Ela conclui mostrando como o modelo banguê cede lugar à usina e como tal fato acaba por “matar” o pequeno produtor, separando-o dos meios de produção.
5. Principais teses desenvolvidas
A autora nesta parte da obra trabalha com a tentativa de desconstrução de conceitos recorrentes na historiografia relacionada aos engenhos de cana de açúcar. Por exemplo, o conceito de latifúndio em Sergipe, acentuando, como já foi dito, as diferenças existentes para com os demais do Nordeste; também procura se opor, em sua obra, ao conceito de exclusivismo do trabalho escravo na produção de cana, mostrando como houve a coexistência do mesmo com o trabalho assalariado livre (colonato, morgadia, parceria).
6. Reflexão crítica sobre a obra e suas implicações
A obra tem um caráter muito interessante no que se refere a análise da conjuntura econômica da província de Sergipe no século XIX. Certamente pela abordagem que a autora faz na obra de assuntos como latifúndio e sistema escravista, por exemplo, pode ser considerada uma nova versão, que se soma e completa as anteriores.
O trabalho de levantar dados econômicos elos inventários também vem sendo explicado na obra, o que acaba ajudando aos leitores acadêmicos a entender melhor como usar as fontes primárias em uma pesquisa.
BB